Jaelson Ortiz: a preparação física do Avaí e o modelo europeu

Postado por: André Palma Ribeiro

 

 

Apresentação do trabalho de doutorado no Congresso de Ciência do Esporte     Foto: Divulgação 

O preparador físico do Avaí, professor Jaelson Ortiz, retornou esta semana da Europa, onde participou do Congresso de Ciências do Esporte (European College of Sport Science Congress), dentro da parceria do clube com o Laboratório de Esforço Físico da UFSC (LAEF). Segundo Jaelson, “esse período de experiência na Europa foi muito importante porque destaca algo que cientistas do esporte e profissionais do futebol tem buscado realizar com muita frequência, que é a união entre ciência e a prática, o que não é nada fácil no nosso país”. Isto só foi possível, destaca Jaelson, graças a essa parceria, uma vez que o laboratório da UFSC tem auxiliado de forma excepcional ao dar suporte científico para a preparação física e fisiologia do Avaí nos últimos anos (desde 2011). E o trabalho de doutorado produzido pelo professor ao longo deste período foi apresentado por ele agora neste congresso na Alemanha. Além do Congresso, Ortiz ainda visitou clubes na Alemanha e o Benfica, em Lisboa.

Curiosamente, muitos cientistas e profissionais dos clubes que visitei se surpreenderam que um clube brasileiro apoiou o seu preparador físico na participação em um congresso fora do país e parabenizaram o Avaí por essa atitude. Lembrando que no mesmo congresso, trabalhos científicos importantes do Barcelona (ES) e PSG (FR) também foram apresentados. Por tudo isso, só tenho que agradecer ao presidente Francisco José Battistotti, por reconhecer a importância e valorizar a formação acadêmica e a qualificação profissional não somente minha, mas também de colegas das categorias de base e profissional, que tem buscado adquirir novos conhecimentos para transferir para a prática do dia a dia no Avaí. É importante destacar ao mesmo tempo que a direção de futebol do clube sob o comando do professor Joceli dos Santos e também de toda comissão técnica liderada pelo professor Claudinei Oliveira apoiaram a minha participação no congresso e a experiência adquirida nos clubes europeus”, acrescentou Ortiz.

Confira o relato das visitas do preparador físico do Avaí, Jaelson Ortiz:  

“Após o congresso, por meio de contatos do Diretor de Negócios Internacionais do clube, Décio Sardá Júnior e sua amiga Elexandra Malz que vive na Europa há mais de 10 anos, tive acesso a clubes como Borussia Dortmund, Bayern de Munique e Benfica de Portugal. Além disso, o técnico da categoria sub-15 do Avaí (Gabriel Büssinger) estreitou o contato com os profissionais do Bayer Leverkusen.

Entre os principais destaques a serem considerados sobre os clubes europeus visitados, estão a organização funcional desses clubes empresas e a valorização das condições de trabalho oferecidas aos profissionais envolvidos com o futebol. Toda a estrutura desses clubes dispõe de equipamentos de muita tecnologia e diversidade, ou seja, vários equipamentos de ponta disponíveis para atingir muitas vezes o mesmo objetivo. Entre as estruturas mais impressionantes para reabilitação e preparação física está a do Bayer Leverkusen, que inclusive já recebeu o astro da NBA Kobe Bryant para se recuperar de uma lesão. Neste clube, fui recebido de uma forma diferenciada, pois o preparador físico brasileiro Daniel Jouvin Abrahan, ex-Flamengo, que está no clube alemão desde 2011, pôde demonstrar cada detalhe do clube, metodologia e filosofia.

Como os europeus visualizam a preparação física no futebol

Em termos de metodologia de preparação física, em observação e diálogo com os diversos profissionais de cada clube visitado é possível perceber que os mesmos princípios metodológicos utilizados pela equipe de preparação física e fisiologia do Avaí são muito semelhantes aos dos clubes alemães. Nestes clubes, uma grande atenção para os níveis de força e potência e também para os padrões de movimento tem sido realizada. Entretanto, a acessibilidade de se trabalhar com muitas opções de equipamentos certamente facilita o trabalho desses profissionais.

Por outro lado, os portugueses do Benfica trabalham dentro de uma concepção diferente, onde a figura do preparador físico não é vista da mesma forma como temos visto no Brasil. Em Portugal, o conceito de periodização tática, mesma linha de planejamento seguida pelo técnico português Mourinho, adota uma ideia de que todos os auxiliares (inclusive preparador físico) são também auxiliares técnicos, com capacidade de realizar intervenções táticas nos treinamentos dentro dos mesmos princípios determinados pelo Mister (como são chamados os técnicos portugueses).

Acredito que a forma de pensar a preparação física de um modo ainda mais integrada com a parte técnica é muito importante e se faz necessária. No entando, acreditamos no Avaí que nem todo o trabalho técnico e tático contempla outros aspectos importantes como a própria resposta aos níveis de força, desequilíbrios musculares e cuidados com a individualidade biológica do atleta.

Outra semelhança importante que me agradou, independente de metodologia ou país, foi a intensidade dos treinos técnicos tanto da equipe principal do Bayern de Munique como da equipe do Benfica B, que pude acompanhar com maior propriedade, com a equipe atual do Avaí. Possivelmente essa intensidade se deve muito pelo perfil dos atletas do elenco atual do clube, atletas mais disciplinados, comprometidos e profissionais. Outra justificativa pode estar relacionada a mudança cultural que tem tido o futebol brasileiro em termos de velocidade e intensidade de jogos do campeonato brasileiro. Claramente o atleta brasileiro está mais consciente de que a mesma intensidade realizada em jogo deve ser realizada também no dia a dia dos treinamentos e esta semelhança nos deixa muito satisfeito, pois sabemos que isso se reflete nas competições.

Contribuição para as categorias de base

O princípio básico dos europeus em termos de formação de atletas de futebol está relacionado com a educação dos atletas, formação escolar e aquisição de habilidades para a vida (Life Skills), que auxiliam esses atletas a crescerem e se desenvolverem primeiramente como seres humanos. O foco inicial nesses fatores, segundo os profissionais desses clubes, está em valores básicos como disciplina, organização e desenvolvimento da capacidade cognitiva dos atletas. Não é à toa que a disciplina tática e a organização tática das equipes europeias são destaques nestes países. Um exemplo comentado pelos profissionais do Leverkusen, por exemplo, foi de que o atleta Kai Havertz, de 17 anos, que vinha sendo convocado para os jogos do time principal, ficou de fora do jogo contra o Atlético de Madrid, na Espanha, pelas oitavas de final da Liga dos Campeões no ano passado, pois tinha prova na escola no dia do jogo. Quando que no Brasil algo nesse sentido iria ocorrer? Existe uma questão cultural na valorização da educação do atleta que é algo muito sólido e serve de exemplo pra nós brasileiros.

De todos os clubes, o que mais me chamou a atenção foi o Bayer Leverkusen, por apresentar algumas características muito semelhantes ao Avaí. Da mesma forma como o Avaí, que tem muitos concorrentes aqui no estado de Santa Catarina para captar atletas, o Leverkusen tem também muitos outros grandes clubes como (Köln, Borussia Dortmund, Fortuna Düsseldorf, Shalke 04). Leverkusen é uma cidade muito pequena, são aproximadamente 161 mil habitantes,  e por isso eles tiveram que desenvolver uma estratégia muito bem definida com olheiros espalhados, principalmente naquela região para captar talentos e desenvolvê-los desde a categoria sub-8. Um dos coordenadores da Academia de Desenvolvimento de atletas jovens do Bayer foi um dos responsáveis pela ida do Marquinhos para o clube. O coordenador ficou muito feliz em se lembrar do Marquinhos e seu talento aos 18 anos, na época em que chegou no clube e também das aulas de alemão que o professor ministrava para o avaiano.

Comparação entre as escolas de formação de atleta 

Em termos de característica de clube o Benfica e o Bayern de Munique são clubes que formam atletas, mas são compradores ao mesmo tempo. Esses clubes têm muitos atletas vindos de diversas partes do mundo. O Benfica B, por exemplo, além de atletas portugueses, possui jogadores brasileiros, russos, africanos e de outras nacionalidades, em sua maioria atletas de suas seleções de base. Já o Leverkusen e o Borussia investem muito na captação e na formação desses atletas logo a partir das idades inicias Sub-8. O Bayer Leverkusen, por exemplo, tem a meta de subir ao time principal apenas dois jogadores por ano. No entanto, os demais atletas não ficam sendo um investimento perdido, pois acabam sendo negociados com clubes de menor expressão de diversos países e dentro da própria Alemanha, o que auxilia no retorno dos investimentos realizados nas categorias de base do clube.”

Encontro com cientistas do esporte, no Congresso Foto: Divulgação / Ortiz
Ortiz, Daniel (preparador físico do profissional do Bayer Leverkusen) e Raoul (técnico das categorias de base do Bayer Leverkusen) conhecendo a estrutura do clube                                  Foto: Divulgação / Ortiz
Ex-preparador físico de Marquinhos ao lado de Ortiz                              Foto: Divulgação / Ortiz
Acompanhando treinamento do Benfica, em Lisboa Foto: Divulgação / Ortiz
Com lateral Rafinha, no Bayern de Munique Foto: Ortiz

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